Onde foi parar o conteúdo?

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Uma das grandes promessas do mundo digital, desde o seus primórdios, era a geração de conteúdo. O acesso à rede e aos meios de publicação gratuitos (blogs, microblogs, grupos de discussão, foto e videoblogs e, mais adiante, as redes sociais) transformariam cada internauta num ser criativo e gerador de idéias.

De fato temos hoje um volume de informação que jamais imaginaríamos há uma década, o que não quer dizer que a criação de conteúdo tenha aumentado como se esperava.

Certamente aumentou a exposição dos conteúdos que já eram produzidos. O filme caseiro que só era impingido a amigos e avós, tornou-se hit mundial (alguns, é claro, a maioria continua tão chato como sempre foi).

A menina ou menino que escreviam diários e poemas vieram para a rede. As fotos que eram fixadas em álbuns ganharam seu espaço (e as fotos que antes eram descartadas pela sua baixa qualidade, também)

O que todo esse conteúdo não tinha no passado era o meio de acesso que tem agora.

Por outro lado cresceu infinitamente o processo de copy&paste. Não cheguei a fazer uma estatística mais apurada, mas percebo que mais de dois terços do que recebo nas atualizações das redes sociais são mensagens encaminhadas, retwits e links de conteúdos já postados em outros lugares.

Mesmo na blogosfera, em tese um espaço de geração de novos conteúdos é impressionante a quantidade de blogs que só reproduzem imagens e textos de outrem.

A promessa não se cumpriu, dirão os luditas mas, enquanto meio, a Internet permitiu que soubéssemos o que estava escrito nos cadernos de muita gente e, certamente, muita gente interessante. Descobrimos sons e imagens para as quais dependeríamos de dar várias voltas ao mundo para conhecer.

Nem tudo são flores, é claro. Ninguém ficou mais inteligente ou mais criativo por estar no cyberespaço. Alguns, por sinal, demonstram que estão atrofiando suas células cinzentas por não se permitirem momentos de desconexão digital para terem mais conexões sinápticas.

O futuro? Não sei. Desde que minha bola de cristal quebrou eu não me arrisco mais a fazer previsões. Nem do tempo.

Minha percepção é de que caminhamos para um novo modelo de concentração de conteúdos. Não mais nas mãos do poder econômico, mas daqueles que se permitem momentos de ócio criativo no mundo analógico. Eles que vão trazer novas idéias para o consumo, sem reflexão, das massas binárias.

Imagem : cena do filme Hollow Man (2000)