Crônica de uma morte anunciada *

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“O amor da gente é como um grão. Uma semente de ilusão. Tem que morrer pra germinar. Plantar nalgum lugar, ressuscitar no chão…” (Gilberto Gil – Drão)

A sua empresa vai morrer.

Como qualquer ser vivo, e uma empresa é um ser vivo muito além da metáfora, ela tem seu nascimento, crescimento, maturidade, decadência e fim.

Segundo o IBGE, no Brasil, 6 em cada 10 empresas fecham antes de completar 5 anos de vida. Entre as micro e pequenas, o número, segundo o Sebrae, é mais assustador – 6 em 10 não chegam a completar dois anos.

Por outro lado, algumas são bem longevas, ultrapassando a marca do centenário. O que não garante sua sobrevivência eterna.

Sua empresa vai morrer. A minha também. É a ordem natural das coisas.

Algumas falecem de má gestão, outras de anemia diante das nossas cíclicas crises econômicas. Não poucas se viciam em drogas pesadas como o desperdício ou guerras de preços que as corroem no seu órgão mais sensível, a rentabilidade.

Empresas bem geridas e lucrativas durante boa parte das suas fases de crescimento e maturidade, também morrem.

Os tempos mudam, seus produtos e serviços tornam-se irrelevantes para o mercado, e elas vão murchando lentamente.

Não poucas vezes, essas transformações dizimam toda uma categoria de negócios. Você já viu esse filme ou leu essa história, não preciso repetir os casos clássicos.

Já há algum tempo, não muito, estamos presenciando uma epidemia incontrolável de envelhecimento precoce de muitos negócios.

Eles já sabem que vão morrer, mas se recusam a adotar os tratamentos radicais que são necessários.

Acreditam que tudo não passa de uma fase. Que quando a economia melhorar seus negócios voltarão a ficar em pé. Que cortando cada vez mais a própria carne ganharão um tempo de vida adicional.

Gente que se ilude com falsas promessas de retorno aos bons e velhos tempos.

Enquanto os bons e novos tempos estão dizendo: se você não se deixar morrer, você não poderá ser plantado para gerar uma nova vida.

As sementes para essa nova plantação, quase sempre, estão dentro de um casulo perdido dentro da própria empresa. Atendem pelo nome de dados.

Protegidos de toda e qualquer manipulação eles irão apodrecer e se tornar matéria orgânica inútil, ou quem sabe, vão ser o combustível fóssil das empresas que ainda surgirão, mas não serão suas?

Colocados para secar (morrer) eles poderão ser lançados em terra fértil e germinar como novos modelos de negócios, novos produtos e, em muitos casos, em novas empresas.

Aceitar a morte não é uma decisão fácil.

Mas, somente quando você se convencer disso, é que terá condições de germinar, crescer e dar frutos nesse admirável mundo novo.

* Crônica de uma Morte Anunciada é o título de um livro de Gabriel García Márquez publicado em 1981

** Foto do Mappin da Praça Ramos é de Eduardo Albarello